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06.01.2018 - 10:01

A experiência de um dia na perícia oficial de Vancouver (Canadá)

Perita criminal Sâmya Soler fez uma troca de experiência com peritos do Canadá, durante uma viagem que ela realizou em agosto de 2017
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A experiência de um dia na perícia oficial de Vancouver (Canadá)

A perita criminal da Coordenadoria Geral de Perícias de Mato Grosso do Sul, Sâmya Soler, fez uma troca de experiência com peritos do Canadá, durante uma viagem que ela realizou em agosto de 2017. Nesse relato ela descreve um dia de trabalho do perito canadense e também comenta um pouco sobre a estrutura da polícia daquele país, além de parte da realidade com relação à violência local.

Meu marido é professor na Universidade Federal da Grande Dourados (UFGD) e está no Canada fazendo um pós-doutorado. Em agosto de 2017 tirei 30 dias de férias para ficar com ele e decidi entrar em contato com a perícia de lá para ver se eu poderia conhecer o prédio.

Mandei e-mail e eles me responderam no mesmo dia, dizendo para eu encaminhar meus documentos comprovando que eu era perita.

Após alguns e-mails e dois meses de análise dos documentos, responderam marcando o dia da visita. Quando cheguei lá, fui recebida pelo perito de plantão, chamado Kam Mahinsa, um iraquiano. Após me mostrar todo o prédio, ele pediu para que eu assinasse um documento dizendo que eu era responsável por eu mesma, pois iríamos para rua. Eu nem acreditei que ele me levaria para rua.

Eles possuem cerca de 30 peritos e tiram plantão de 8 horas, trabalhando sozinho. Andam uniformizados e armados. Dentro desses 30 peritos não existe divisões, todos exercem a mesma função, diferentemente daqui.

O departamento da perícia chama Forensic Identification Unit e fica junto com o restante da Polícia.

A viatura é um furgão branco, diferente da viatura preta dos policiais da patrulha, como aqui no Brasil. Cada viatura possui um computador de bordo; após contato por telefone o perito acessa por meio deste computador os dados da ocorrência, sem precisar de requisições por escrito.

Eles também não emitem laudo por escrito. Para cada ocorrência, o perito acessa o sistema online e descreve tudo, desde horário do atendimento até a conclusão do que foi materializado e/ou coletado, o que eles chamam de relatório.

Quando coletam algum material como amostra de sangue. por exemplo, eles preenchem o relatório dizendo o que foi coletado e quando foi enviado para o laboratório. Da mesma forma, o laboratório, após realizar a análise, complementa o relatório online, tornando o acesso à informação mais fácil, rápido e menos burocrático para o detetive (que seria nosso delegado).

O Kam me contou que desde janeiro até agosto de 2017, o número de homicídios era de 14, apenas 14 homicídios em 8 meses! Fora isso, o trabalho do perito canadense é bem parecido com o que nós chamamos de perito da externa aqui, que é aquele que vai até o local de crime.

Das seis horas que fiquei com o perito de plantão, nós atendemos quatro ocorrências, sendo que uma delas tratava-se de furto em um banco e por isso passamos muito tempo no local analisando o arrombamento dos cofres e coletando impressões digitais.

No começo eu fiquei num canto, só observando, mas ele mandou eu colocar as luvas e trabalhar, o que fez a experiência melhor ainda.

Uma das coisas que mais me fascionou foi o sistema policial como um todo. O Kam me explicou que existe apenas uma polícia, ou seja, só existe um processo para se tornar policial.

Depois que você entra, você passa uns dois anos na patrulha (na rua, como a nossa Polícia Militar) e depois pode fazer os cursos específicos, como para perícia, que são dois anos, ou para a SWAT ou marinha. Isto é, enquanto você ainda está no base da cadeia hierárquica, você pode escolher onde quer trabalhar, mas depois que sobe de nível isso não é mais possível.

O Kam mesmo preferiu aposentar neste nível, sem subir, assim depois da patrulha ele ficou 10 anos como detetive e então decidiu fazer os dois anos de curso e ser perito.

Kam me ensinou não só sobre perícia, mas sobre a cultura canadense e a valorização que é dada ao policial, que é invejável.

O canadense é mundialmente conhecido por ser muito educado e fiquei feliz em ver que é tudo verdade; todos os policiais, não só os peritos, trataram-me imensamente bem, e fizeram dessa a melhor experiência profissional que já tive.

Veja algumas fotos da experiência na galeria do Site do Sinpof.

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