Inovar em ferramentas de apoio à perícia criminal para elucidar crimes, através de um inovador formato de rastreamento de grãos de pólen, foi o que levou os pesquisadores Ariadne Barbosa Gonçalves, Felipe Silveira Brito Borges, Geazy Vilharva Menezes e Juliana Velasques Balta, integrantes grupo de pesquisa Desenvolvimento Tecnológico e Inovação em Visão Computacional (Inovisão) da Universidade Católica Dom Bosco (UCDB), à final do Tshinghua-Santander World Challengers of the 21st Century (desafios mundiais do século XXI, na tradução ao português).
O evento acontece entre 29 de julho e 9 de agosto, em Pequim, na China e o projeto de Mato Grosso do Sul é um dos 12 finalistas entre 67 inscritos e chega na Ásia com a maior pontuação acumulada. Agora em julho, houve uma simulação realizada em Campo Grande para apresentar o trabalho à imprensa e o Sindicato do Peritos Oficiais Forenses do Estado de Mato Grosso do Sul apoio a atividade.
O grupo está desenvolvendo um software para automatizar o uso da palinologia forense e um equipamento de lentes acoplado ao celular para acelerar o trabalho de análise feito hoje em laboratório por meio de microscópio. Por ser uma ferramenta inédita no Brasil (a palinologia forense), a expectativa dos pesquisadores é que um dia o protótipo de lentes seja patenteado e o software registrado para que possa ser utilizados no mundo inteiro na elucidação de crimes.
“Estão fornecendo uma tecnologia, uma
ferramenta inédita no Brasil, e muito útil para os peritos para responder casos
de crimes”, explica o coordenador do grupo Inovisão, Dr. Hemerson Pistori,
professor do Programa em Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária, ao destacar o ineditismo da pesquisa no Brasil.
O professor e perito criminal em Mato Grosso do Sul, Wedney Rodolpho de Oliveira, destaca a importância da pesquisa para o trabalho da perícia no
Estado. “O estudo da palinologia é um trabalho que tem uma relevância social
muito importante. Ainda que um trabalho desse demande anos ou décadas de
pesquisas, a resolução de um crime já justificaria todo esse trabalho. Então isso
já valeu a pena”, enfatiza o perito, que destaca também o mérito dos
acadêmicos da UCDB no empenho de realizar o projeto pioneiro. "É uma contribuição para uma sociedade em que haja a melhor garantia da ordem e segurança pública."
Karina Rébulla Laitart, também perita criminal da Coordenadoria Geral de Perícias de MS, reforça que a palinologia forense permite obter vestígios escondidos, mas fundamentais para ajudar na resolução de um crime violento. “A perícia, por trabalhar com vestígios no local de crime, encontra na palinologia forense uma importante ferramenta para auxiliar o perito a buscar vestígios silenciosos, aliados às demais constatações, que são utilizados na interpretação da cena do crime em estudo.”
A perita criminal ainda comenta que é necessário ampliar o banco de dados de informações de locais de crime. "Para a palinologia forense ser utilizada no dia a dia pericial é necessário aumentar o banco de dados, além de uma constante atualização”, aponta.
A doutoranda Ariadne Barbosa Gonçalves, do programa de Ciências Ambientais e Sustentabilidade Agropecuária da UCDB, que encabeça a pesquisa, já realizou testes em oito casos, sendo cinco homicídios, duas auto eliminação e um acidente de trânsito. Esses casos foram estudados no Instituto de Medicina e Odontologia Legal (IMOL) do Estado para comprovar a aplicabilidade do trabalho.
“Foi
possível realizar a coleta dos polens nos corpos por um método fácil e
eficiente, inclusive já conseguimos dizer se os grãos de pólen encontrados nos
casos são proveniente ou não do local onde o corpo foi encontrado”, explica a pesquisadora.
O estudo já estava em andamento há seis anos, iniciado pela entomologia (estudo dos insetos e larvas) forense e agora passou para a palinologia (pólens) forense.
Integrantes do grupo buscam agora no concurso internacional a oportunidade de inovar a pesquisa na questão ambiental, conscientizando de que é preciso preservar a natureza. Ariadne, Geazy, Felipe e Juliana vão a Pequim representar o grupo, que também é composto pelo acadêmico de Engenharia da Computação Milad Roghanian. Eles participam da grande final com todas as despesas pagas pelos patrocinadores (Universidade de Tsinghua e banco Santander).
PARCERIAS
Eles contam também com o
financiamento da Fundação de Apoio ao Desenvolvimento do Ensino, Ciência e Tecnologia do Estado de Mato Grosso Do Sul (Fundect). Esses recursos foram utilizados para aquisição
de equipamentos e participação em eventos, além de bolsas de pesquisa do
Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da
Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Outro
apoio que obtiveram foi uma placa de vídeo que ganharam da empresa americana Nvidia, especializada na produção de placas gráfica.